O aspecto lírico ganhou enorme valor no rock brasileiro a partir da década de 1980. Mas quais foram os artistas responsáveis por elevar o nível das letras de músicas nesse período?
Em entrevista ao Corredor 5 (via Rockbizz), o guitarrista Edgard Scandurra, do Ira!, deu esse crédito a dois nomes importantes do segmento: Renato Russo, cantor da Legião Urbana, e Cazuza, vocalista que surgiu no Barão Vermelho e depois focou em uma carreira solo.
Inicialmente, Scandurra apontou que nem sempre os artistas e bandas do rock brasileiro davam a devida atenção às letras. Àquela altura, outros aspectos pareciam mais importantes — até que Renato e Cazuza surgiram com uma abordagem diferente.
“A gente ficava muito mais ligado na cena em si do que na letra! Quem deu esse gás para as letras e transformou o rock punk em uma coisa mais pop foi o Renato Russo e o Cazuza. Eles botaram um patamar acima.”
A mudança de nível, de acordo com Edgard, se deu através da amplitude dos temas abordados. Para ele, Legião Urbana e Barão Vermelho contemplavam tópicos que fugiam de meras reflexões mundanas ou típicas da juventude.
“Saímos daquela coisa do dia a dia da vida e adolescência. Eles botaram a coisa em um plano superior.”
De certa forma, tal perspectiva obrigou todos os outros artistas do rock brasileiro a rever seus métodos de composição de letras. Afinal de contas, Renato e Cazuza conquistaram enorme sucesso dessa forma — o que indicava um desejo do público por versos mais elaborados.
“Isso foi bacana porque cobrou de todos nós. Todo mundo precisou pensar mais sobre isso, porque, até então, era a cena, era a atitude e era a guitarra. Às vezes, a gente nem entendia direito a letra da pessoa. O que valia para a gente era a atitude. Tivemos que reavaliar esse conceito.”
Ira! e as letras sem rimas
Durante a mesma entrevista ao Corredor 5 (via Whiplash), Edgard Scandurra compartilhou uma curiosidade a respeito das letras do Ira!. De acordo com o guitarrista, várias composições de sua banda não contam com rimas, recurso bastante comum nesse estilo de escrita.
“Uma música que o Ira! toca, chamada ‘Saída’, acabou entrando no primeiro disco da banda, e eu compus quando tinha 16 anos. Nessa época, gostava de trabalhar com palavras que soassem como no inglês. Acho que o rock tem uma linguagem própria, e muitas vezes, o inglês — ou até o francês — parece que ensina isso pra gente. É um som que carrega uma musicalidade própria, sabe? Foi por isso que comecei a escrever letras pensando muito no som das palavras, como em ‘Não vou mais gritar que te amo’ (trecho da música). Minhas composições quase não têm rimas, e isso veio dessa fase, quando eu tinha 15 ou 16 anos e começava a expressar minha insatisfação juvenil.”
Fonte: Rolling Stones
Link: Os 2 artistas que elevaram o nível das letras do rock nacional, segundo Edgard Scandurra